terça-feira, 12 de novembro de 2013

CORDEL AS NOIVAS DO CORDEIRO

CORDEL AS NOIVAS DO CORDEIRO Autor: Olegário Alfredo Na grande lei do Universo Não há segundo sem primeiro O bicho homem é complicado Mas pode ser justiceiro Peço luz para escrever Sobre as Noivas do Cordeiro. São cinco horas da manhã O galo ainda no poleiro Lá se pondo a cocoricá Embelezando o terreiro Chamando pra despertar Sim, as Noivas do Cordeiro. As mulheres do lugar Muito cedo estão de pé Levam as crianças para escola Logo após tomar café Sempre livres e felizes Essa é a profissão de fé. Mas antes nada era assim O sofrer já dissipou O peito guarda a tristeza Do mal tempo que passou Foi com Maria Senhorinha Quando tudo começou. 1 Mil oitocentos noventa A data do marco zero Assim pipoca essa história Entre tanto lero-lero O desandar deste fato Foi um complicado bolero. A Maria Senhorinha Estava recém casada Com o francês Arthur Pierre Roças Novas era a morada Distrito de Belo Vale Pelo caminho da estrada. Com três meses de casório Resolveu se separar Une-se com Chico Fernandes Homem simples do lugar O povo escandalizado Pôs-se logo a marretar. E dessa louca união Muito, muito combatida Senhorinha veio a formar Uma família querida Oito filhos consagrados Exemplo de fé na vida. 2 Francisco, o filho primeiro Vem Maria Matozinho Genoveva com Vicente Seguem no mesmo caminho Geralda, Beniga, Antônia Com Ramiro mais carinho. A união de Senhorinha Teve má repercussão A igreja do catolicismo Fez a excomungação Para toda a sua família Até a quarta geração. Francisco Fernandes Filho O primeiro do casal Casa com Geralcina Filhos 12 no total * Destaca a filha DELINA A matriarca do local. O preconceito reinante Que acompanhou senhorinha Juntamente com seus filhos Foi praga de erva daninha Vai para geração seguinte A dor cega que caminha. 3 E por várias gerações Esta chaga foi marcada Obrigando-os a viver De forma mais que isolada Sem contato com ninguém Vida triste segregada. Tidas como prostitutas Cruel discriminação Muita dor com sofrimento Tempo de desolação Preconceito em toda parte Contaminou a região. Vida constante sofrida Seguida de vexatório Em qualquer parte ou lugar O mesmo repetitório Já foram apedrejadas Até mesmo em velório. Para as Noivas do Cordeiro Vem à fase crucial Pelos anos de 40 (1940) Eis que chega no local Um pastor evangélico Um cordeiro corporal. 4 De nome Anísio Pereira Um evangelizador Frequenta a comunidade Como um consolador Mas foi um oportunista Sabendo ser fingidor. Resolve o pastor Anísio Com DELINA se casar Tinha ela 16 anos De sonhos a suspirar Ele com 43 Experiência a esbanjar. Ergue a igreja evangélica Naquela comunidade Foi ironia do destino Ou o acaso da falsidade Pois de Noiva do Cordeiro Batiza a localidade. E dessa união casalar Como ninho de novilhos Nascem na comunidade Um total de doze filhos E os problemas vão surgindo Nas pausas dos estribilhos. 5 E começa este pastor A sua evangelização Todo mundo vira crente Na pequena região Assim vivem iludidas As moças do casarão. O isolamento vivido Pelas gerações passadas Veio a tornar mais aguda E as crises mais acirradas Pelas regras rigorosas Pelo pastor aplicadas. A dor da segregação Preconceito por inteiro Tristeza, desolação Jejum, falta de dinheiro Marca da Comunidade Lá na Noiva do Cordeiro. A esperança de mudança Começa já acontecer Foi nos idos de 90 (1990) Coração não quer sofrer Diz a voz interior Temos a vida pra viver. 6 E as Noivas do Cordeiros Despertaram a questionar Sobre as regras ali impostas E a doutrina do pensar E que dali para frente A alegria iria a reinar. Tudo foi num casamento Que a alforria começou Uma filha de Delina Em uma noite sonhou: - Ter música na igreja E que o povo todo veja E o sonho realizou. Muitos jovens do local Não sabiam o que era dança Passavam a vida a perder A infância da criança O ápice deste casamento Foi o germinar da bonança. E neste dia dançaram Como sendo carnaval Se livraram do fantasma De seu pecado carnal Extinguiram para sempre Aquela igreja local. 7 Nunca mais religião Institucionalizada Nem católica nem evangélica Como outra profetizada A liberdade por lá Por Deus foi proclamada. Lá nas Noivas do Cordeiro As moças são a maioria Elas aram e amam a terra Trabalham em harmonia Sabem ordenhar as vacas Tarefa de todo dia. Tecem tapetes e colchas Dos porcos sabem cuidar Criam lindas lingeries Mão de fada a trabalhar Não querem jamais perder O grande poder de amar. Como as mulheres de Athenas Trabalham no seu lugar Os homens vão pra longe Em busca do labutar Nas folgas, voltam sedentos E com elas vão amar. 8

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