Rabeca Mineira: com Olegário Alfredo (Mestre Gaio) olegarioalfredo@gmail.com - www.olegarioalfredo.com.br
sábado, 21 de maio de 2016
sexta-feira, 27 de junho de 2014
FREI CHICO EM CORDEL
FREI CHICO EM CORDEL
Autor: Olegário Alfredo
Santo Deus onipotente
Arquiteto do Universo
Deixai-me neste cordel
Profundamente imerso
Para que eu possa escrever
E que todos possam ler
Vida de Frei Chico em verso.
O corpo do ser humano
É parecido com uma fresa
Não sendo ele bem cuidado
O malefício o despreza
Se atacado por doença
É preciso que haja crença
Pois só se salva com a reza.
Francisco Van Der Poel
Popularmente, o Frei Chico
Para o povo brasileiro
Carrega a vida no bico
Mistura de homem bicho
Conhecedor de todo nicho
Com alma de tico-tico.
Mil novecentos e quarenta
A data do nascimento
3 de agosto registrado
No livro do sacramento
Do homem, quem traça o destino
Desde cedo pequenino
É Jesus no firmamento.
1
Vindo direto da Holanda
Para o país da mistura
Aporta em tempos de ferro (1968)
Da excomungada ditadura
Onde tudo era proibido
Só se fazia escondido:
Macumba, reza e cultura.
De sorte, o frade holandês
Que era adepto ao Rosário
Foi por ordem franciscana
Traçado seu itinerário
Trabalhar no Araçuaí
E dali não mais sair
Como obreiro missionário.
Vale do Jequitinhonha
Lugar de sofreguidão
Sem lanterna segue o frei
Achar luz na escuridão
Ele sabia que no mundo
Naquele perau profundo
Ser a mais pobre região.
Jesus Salve Frei Chico
Este holandês mineiro
Que ao descobrir um tiquinho
Deste Brasil brasileiro
No Vale Jequitinhonha
Onde o viver é o que sonha
Entendeu-o por inteiro.
2
Tal qual Guimarães Rosa
Andava por todos os lugares
As amizades surgindo
Nas feiras, ruas e lares
Carregando uma caneta
Anotando na caderneta
Os dizeres e cantares.
Pendurado no seu hábito
Um palhaço de boneco
Diz ser seu modo anarquista
Seu pequenino amoreco
Leva o bichim pra todo lado
Palestra, show, batizado
E em cantiga de boteco.
“Eu sou um palhaço de circo”
Diz o frade na sabença
Seu picadeiro são as feiras
E não há quem o desconvença
Tocando seu violão
Botando fé na benzeção
Do jeito que o povo pensa.
A arte popular é um dom
Como também vocação
Pois não existe arte errada
Em qualquer parte ou região
Aprendendo com o velho
Como se fosse um evangelho
Faz parte do coração.
3
E Frei Chico nas andanças
Descobriu pelo sertão
Ser forte o poder do povo
Se brotado pelo chão
Uns vive à mercê de Deus
Estes semelhantes aos seus
Outros na vida do Cão.
- A vida: se sabe, não é fácil,
Vou dizer para vocês
Que Frei Chico faz num dia
Sei que ninguém faz num mês.
O padre ora, toca e canta
O Rumãozinho? Pega e espanta
Com seus caxinguelês.
Tradição oral é sinônimo
De contemporaneidade
O povo sabe pensar
A partir da totalidade
A experiência da vida
Quer seja alegre ou sofrida
Vive na comunidade.
A vida, com sabemos
Da religiosidade
Não deve ser separada
É próprio da humanidade
Seguir por intuição
Através da religião
A cultura desejada.
4
Frei Chico todo é formado
De uma simples beleza
Adora o povo do Vale
Em vez de ver a pobreza
Ver na tradição da fé
Tão bonita que ela é
A sua real riqueza.
O Frei Chico viu no povo
Um grande potencial
Nas canções das lavadeiras
Lavando roupas no quintal
Nas rezas das benzedeiras
Nas festas das brincadeiras
Pega e cria um coral.
Frei Chico sabe falar
A língua do mineirês
Muito culto e poliglota
Fala o latim e holandês
Fala o francês e alemão
Fala a língua do sertão
Ainda o grego mais o inglês.
Seguidor da Teologia
De nome “Libertação”
A favor do socialismo
Da gente de pé no chão
Vê na cultura popular
A força do secular
No bater da pulsação.
5
E Frei Chico também sabe
Valorizar a Rotina
A vida neste mundão
É doce como felina
É o povo no povaréu
Filhos do Papai do Céu
Quem ilumina sua retina.
Frei Chico é um cidadão
Simples e comunicativo
Para a cultura popular
Um grande superlativo
Risonho com todo mundo
Um erudita profundo
Sobretudo criativo.
Foi no Jequitinhonha
O Vale do suspirar
Que mudou no franciscano
O seu modo de pensar
Aprendeu com os mais pobres
Ver a riqueza dos nobres
Na cultura popular.
Disposto a amar vida
Frei Chico na mata embronha
Para quem crer no divino
Não há doença medonha
É o povo quem ensina
A popular medicina
No Vale Jequitinhonha.
6
E foram décadas ouvindo
O bater dos machadeiros
E pelas barrancas do Rio
O cantar dos canoeiros
E pela caatinga do sertão
Segredado em seu surrão
Os aboios dos boiadeiros.
Na roda do benfazejo
O capeta é perverso
Na roda da malvadeza
Jesus Cristo é o inverso
Frei Chico é conhecedor
Aclamado como um doutor
Na arte de jogar verso.
Na hora do padecer
De quem vive no calvário
O coitado ser vivente
Corre e chama o vigário
Junto com a benzedeira
Frei Chico na rezadeira
Quem desembola o Rosário.
Frei Chico se transformou
Num autêntico catrumano
O linguajar do mineiro
Pronuncia sem engano:
Disgramou no quiabar
Está no seu cotidiano.
7
Já publicou vários livros
Na linha do popular
Em escolas especiais
É professor exemplar
Sem saber o corpo reza
E o doutor comum despreza
O que o Frei sabe falar.
Frei Chico um cancioneiro
Da lira do sertanejo
Mais do que religioso
Sabedor do pastorejo
Batina com tabatinga
Do Calhau Velho a Itinga
Do atacado ao varejo.
Lá vai o padre Francisco
Um dos mais sublime artista
Carrega seu povo no bolso
Sem nunca perder de vista
Bodogô de rouco berro
Pés de estrada de ferro
Doce brilho da ametista.
8
quinta-feira, 3 de abril de 2014
CORDEL PARA SANTO ANTÕNIO - oLEGÁRIO aLFREDO
SANTO ANTÔNIO
A vida que nos rodeia
É feita de brevidade
Viva a vida com amor
Deixe de lado a vaidade
Tente sempre um pouquinho
Cada dia no seu caminho
Praticar a caridade.
Peço ao Pai Celestial
Um pouco de inspiração
Pra falar de modo simples
Com clareza e emoção
Sobre avida deste santo
Que habita em todo canto
De quem tem bom coração.
Santo Antônio foi nascido
Na cidade de Lisboa
No país que é Portugal
De Camões e de Pessoa.
Santo Antônio é quem protege
De tudo que for herege
E Jesus nos abençoa.
Santo Antônio é protetor
Das flores e passarinhos
Dos que andam pelo mundo
Solitários e sozinhos
Santo Antônio também é
Da barquinha de Noé
Companheiro dos bichinhos.
1
anto Antônio, Ó Santo Antônio,
Eu te peço no momento
Tirai com sua bondade
Todo mau pensamento
De quem anda atormentado
E de quem vive afastado
Do sublime sentimento.
Santo Antônio é conhecido
Pelo povo brasileiro
Como santo dos humildes
E santo casamenteiro
Santo Antônio é popular
Gosta mesmo de ajudar
O povo do mundo inteiro.
Mas para isso é preciso
Nele crer com devoção
Pois todo necessitado
É elemento de inclusão.
Praticar a caridade
Sem medir dificuldade
é dever do coração.
O seu nome verdadeiro
Foi Fernando de Bulhões
Trocou o nome para Antônio
Por força das orações
Sendo da Ordem Franciscana
Abraçado à causa humana
De quaisquer religiões.
2
Santo Antônio foi um grande
Frade evangelizador
Não renegava a própria fé
Perante a ordem do opressor
A pobreza foi à bandeira
Hasteada na porteira
Da bondade e do amor.
Santo Antônio pelo mundo
Levava a vida com alegria
Mesmo na extrema pobreza
Pra todo mundo ele sorria
O peregrino de Deus
Juntamente com os seus
Foi exemplo de harmonia.
Em todo treze de junho
Há festança sem parar
Santo Antônio é milagroso
Bondoso e popular
Olha todos por igual
Com jeitinho natural
Basta dele precisar.
Existem muitas simpatias
Pra quem pretende casar
E Santo Antônio é certeiro
Pode nele confiar
Escute esta simpatia
Feita dentro da bacia
Pela noite de luar.
3
Quem deseja descobrir
o nome da companheira
Tenha na mão um facão
E de forma bem ligeira
Espere o 13 de junho
E com o facão no punho
O crave na bananeira.
O líquido que escorrer
Para baixo do cortado
Formará a letra certa
Do futuro namorado
Santo Antônio é certeiro
E do mundo é o primeiro
O santo mais festejado.
Pegue vários papeizinhos
Ponha neles a escrever
Os nomes dos pretendentes
Que você queira viver
Enrole bem enroladinho
Guarde todos com carinho
Que já digo o que fazer.
No dia 12 de junho
Na entrada da madrugada
Botem eles na bacia
Com bastante água filtrada
Quando o dia amanhecer
Corra logo para verdadeiro
Sua intenção realizada.
4
o brogodó que estiver
Mais aberto na bacia
Nele estará revelado
A pessoa que pretendia
A Santo Antônio agradeça
Reze o credo toda terça
Até chegar o seu dia.
Pegue a imagem do santo
Tire o Menino Jesu
Guarde o santo bem guardado
De cabeça ao pé da cruz
Ao surgir o namorado
Tão logo estará casado
Perante à Divina Luz.
Caso perder um objeto
Não tenha preocupação
Pegue firme com o Santo
Rezando a sua oração
Em pouco tempo o perdido
Através de seu pedido
Estará na sua mão.
Casal que vive brigado
Santo Antônio Concilia
Pegue um cravo e uma rosa
Amarre os talos com alegria
Fita verde é bom usar
Pra receita não falhar
Na hora da simpatia.
5
Pra completar a receita
Dê treze nós pela fita
Espere chegar o dia treze
Que verás a conquista
Santo Antônio é fiel
Cumpridor de seu papel
De quem nele acredita.
Santo Antônio é português
Mas parece brasileiro
Por haver tanto devoto
Neste país por inteiro
O seu dia é festejado
Com canjica e frango assado
Com fogueira e fogueteiro.
Santo Antônio nos livrem
De todo olhar invejoso
Nós sabemos que na vida
Foste homem corajoso
Nos proteja toda hora
Mande a maldade embora
De nosso lar religioso.
Santo Antônio, pois bem sei
Que esta vida é passageira
Foi na peregrinação
Quando orava a noite inteira
Santo Antônio percebeu
Na oração que recebeu
Ter a vida verdadeira.
6
Santo Antônio é curador
É festeiro e brincalhão
Santo Antônio também casa
Todo filho que é cristão
Santo Antônio só não casa
Sendo um ateu ou pagão.
A quem vive aprisionado
Em tentações infernais
Recorrei a Santo Antônio
Pra não ser tarde demais
Vereis o demo fugir
A felicidade surgir
Em qualquer canto ou locais.
Quem tem fé em Santo Antônio
Recupera-se o sofrido
Afugenta a dor do peito
Cede o mal embravecido
Abra logo seu coração
Peça ao Santo intercessão
Que nem tudo está perdido.
Santo Antônio de Lisboa
É tamanha sua bondade
Que todos alcançam graças
Ao pedir-lhe caridade.
Santo Antônio, Ó que dor!
Já não existe tanto amor
Perante a humanidade.
7
Santo Antônio de Roça Grande
Abençoai nossos filhos
Protegei todos os jovens
Colocando-os no trilho.
A vida é tão passageira
E a oração é a trincheira
De tos os empecilhos.
Santo Antônio tropejei
Todo casal bem casado
Não deixando o malquerer
Vim causar um trapalhado
A triste separação
De um casal em união
Causa dano aquebrantado.
Treze de junho chegando
Vamos todos festejar
Santo Antônio nessa hora
Também vai comemorar
Cada qual com seu parceiro
Quem não tem pede ao santeiro
Que ele pode te arrumar.
Santo Antônio, vou-me embora
Já é hora do final
Para o ano se Deus quiser
Brincaremos no quintal
Vou rezar a Ave-Maria
Pedir paz e harmonia
Depois do Pelo-Sinal.
8
terça-feira, 18 de março de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
NONÔ O REI DO CALDO DE MOCOTÓ- CORDEL
CORDEL (trecho)
NONÔ – O REI DO CALDO DE MOCOTÓ
Todos devem conhecer
A cidade de Belô,
Mães, pais, filhos e avô
Aqui tem muito que fazer
Folgar, rezar e beber
Passear pelo metrô
Ver de perto a arte decô
Depois é só comer sem dó
POIS NOSSO REI É O NONÔ
DO CALDO DE MOCOTÓ.
Falando em gastronomia
De Tudo já experimentei
Nos bares nunca errei
Foi grande minha alegria
Fazer parte da freguesia
Até mesmo na do Ó
Por isso não vivo só
Como até fora da lei
POIS NONÔ É NOSSO REI
DO CALDO DE MOCOTÓ.
O melhor bar da cidade
Não tem hora de Fechar
Basta o freguês chegar
Que é só felicidade.
Regressando do forró
Prepare logo seu gogó
Pra tão logo degustar
E barato vai pagar:
POIS NONÔ É NOSSO REI
DO CALDO DE MOCOTÓ.
CORDEL NONÔ O REI DO CALDO DE MOCOTÓ
CORDEL (trecho)
NONÔ – O REI DO CALDO DE MOCOTÓ
Todos devem conhecer
A cidade de Belô,
Mães, pais, filhos e avô
Aqui tem muito que fazer
Folgar, rezar e beber
Passear pelo metrô
Ver de perto a arte decô
Depois é só comer sem dó
POIS NOSSO REI É O NONÔ
DO CALDO DE MOCOTÓ.
Falando em gastronomia
De Tudo já experimentei
Nos bares nunca errei
Foi grande minha alegria
Fazer parte da freguesia
Até mesmo na do Ó
Por isso não vivo só
Como até fora da lei
POIS NONÔ É NOSSO REI
DO CALDO DE MOCOTÓ.
O melhor bar da cidade
Não tem hora de Fechar
Basta o freguês chegar
Que é só felicidade.
Regressando do forró
Prepare logo seu gogó
Pra tão logo degustar
E barato vai pagar:
POIS NONÔ É NOSSO REI
DO CALDO DE MOCOTÓ.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
cordel os gaiolas do rio são francisco
OS GAIOLAS
DO RIO SÃO FRANCISCO
Neste cordel eu me vejo
Passeando pela história
Escrevendo pouco a pouco
O que trago na memória
Sobre o Rio Francisco
Um marco feito de glória.
Antes porém é preciso
Acrescentar na introdução
A história do São Francisco
Grande rio da Nação
A importância que ele tem
Em toda sua extensão.
Chamado de Velho Chico
Este rio feito de encanto
Por cinco estados ele cruza
Leva seu sagrado manto
Distribuindo alimentos
Em nome do mesmo Santo.
Em mil e quinhentos e um
Deu-se o Rio por descoberto
Foi com Américo Vespúcio
Um navegador esperto
Pressentia que a riqueza
Dele estava muito perto.
1
Já os índios da região
De sabença secular
De “Opara” chamavam o rio
Que significava “Rio-Mar”
O homem branco lá chegando
Os índios profetizando:
- Este rio vai-se acabar.
Lindamente o São Francisco
Nasce nas terras mineiras
Formados de águas mansas
E também de corredeiras
Um rio cheio de histórias
E de lendas brasileiras.
Portanto o velho Chico
Um rio feito de curriola
Onde se come um bom pescado
Ao som alegre da viola
E a saudade vem surgindo
Das viagens no Gaiola.
O Gaiola é no Brasil
Um tipo de embarcação
Que navega pelo rio
De uma certa região
Levando gente ribeirinha
Do cerrado e do sertão.
Disse o velho gaioleiro
Um ditado interessante:
Que navegar é preciso
Viver não é semelhante
Um rio corre naturalmente
Devagar, chega a diante.
2
A primeira embarcação
Para o povo ribeirinho
Apelidado de Gaiola
Retribuição de carinho
Batizado pelo nome:
Barco SALADANHA MARINHO.
Foi importante este barco
Para o baiano e mineiro
Com apito rouco e estridente
De longe ouvia o viageiro
Tinha como itinerário,
Pirapora a Juazeiro.
A segunda embarcação
Em viagens por águas santas
No leito do São Francisco
Margeando belas plantas
Este barco conhecido:
Como o PRESIDENTE DANTAS.
A lancha CEZÁRIO foi
A terceira a navegar
Pelas águas do Velho Chico
Viajava sem parar
Um gaiola pro comércio
Das pessoas do lugar.
SÃO PAULO o quarto vapor
Teve vida temporária
Era voltado para pesca
E para agropecuária
Sem explicação sumiu
Do Porto de Januária.
3
ANTÔNIO DO NASCIMENTO
Este foi o quinto vapor
Pirapora a Bom Jesus
Deslanchava o roncador
Tinha porte mediano
E um reforçado motor.
O barco ALFREDO VIANA
Outro de grande valor
Impulsionado por hélice
Nas águas era um trator
Transformado em gaiola
Passa a chamar SALVADOR.
O mais velozes dos gaiolas
De nome MATA MACHADO
Também foi o mais possante
Tinha o casco achatado
Levava gente importante
Nunca ficando encalhado.
Vem o ENGENHEIRO HALFED
O maior do São Francisco
Era bastante imponente
Andava sem correr risco
Tinha até segunda classe
O gaiola mais arisco.
O vapor MELO VIANA
De belíssimos patamares
Levava grandes toneladas
Para todos os lugares
Teve o nome substituído
Por gaiola RAUL SOARES.
4
Tinha o nome de SÃO FRANCISCO
O vapor da integração
Carregou gente importante
Do mais alto escalão
Um incêndio inesperado
Casou sua destruição.
É bonito ver passar
Qualquer dia qualquer hora
O BENJAMIM GUIMARÃES
Na cidade de Pirapora
No mundo não há quem tenha
Um vapor movido à lenha
Ao rompimento da aurora.
O gaiola Benjamim
É de se encantar qualquer vista
Nele pode passear
Do Governador ao artista
Um patrimônio mundial
À espera do turista.
O BARÃO DE COTEGIPE
O gaiola da saudade
De apito melodioso
Alegria da cidade
Abandonado em Pirapora
Sem a menor piedade.
Até hoje os barranqueiros
Lamentam tal descaso
O barco foi abandonado
Num banco de areia raso
Culpa da administração
Ignorância do atraso.
5
Vem o FERNANDES CUNHA
Construído em Juazeiro
Tinha uma máquina moderna
Navegava bem ligeiro
Queimado em Matias Barbosa
Em território mineiro.
O CORDEIRO DE MIRANDA
Um barco muito imperfeito
Duas vezes naufragou
Por ser alto e muito estreito
Muitas pessoas morreram
Por causa do tal defeito.
Um dos melhores vapores
Foi o WENCESLAU BRAZ
O gaiola dos turistas
Perfeito no leva-e-traz
Veio a sofrer um naufrágio
Saiu fora do cartaz.
O gaiola FERNÃO DIAS
Na Inglaterra fabricado
Nas águas do São Francisco
Com cuidado foi lançado
Sem justa explicação
Também foi incendiado.
O gaiola ANTÔNIO OLINTO
Origem desconhecida
Na revolução de 30 (1930)
Teve a triste despedida
Navegava no São Francisco
Muito tira perdeu a vida.
6
O SANTA CLARA, outro gaiola
Que o caboclo d’água levou
Nas águas do Velho Chico
Em 32 naufragou
Morrendo várias pessoas
Só a saudade restou.
O gaiola CORONEL RAMOS
Barco cheio de nove hora
Era pertencente da,
Viação de Pirapora
E como os demais gaiolas
Pro ferro velho foi embora.
Agora o FRANCISCO BISPO
Nome dado em homenagem
Ao melhor de todo o Vale
De mecânica de engrenagem
Um gaiola interessante
Encantador de passagem.
O gaiola SERTANEJO
Rebocava duas chatas
O Piriquitinho Verde
Era das cores da mata
Pelo Rio São Francisco
Viajou por poucas datas.
Origem desconhecida
O GOVERNADOR VALADARES
Antes de ser ferro velho
Naufragou em vários lugares
Um gaiola misterioso
Semelhante aos lupanares.
7
O gaiola AFONSO ARINOS
De origem desconhecida
Também sofreu naufrágio
Nesta cena repetida
Ferro velho o destino
Mais um fora da vida.
Agora o PARACATUZINHO
Barco de pequeno porte
Um gaiola naufragado
Bem em Minas, lá no Norte
Ninguém neste não morreu
Caboclo d’água deu a sorte.
Vem o JURACY MAGALHÃES
O maior vapor da frota
Só em rio cheio navegava
Para não perder a rota
Abandonado em Juazeiro
Teve a sua vida morta.
Outros gaiolas no cordel
Como o COSTA PEREIRA
Naufragou em Pirapora
Em plena terra mineira
NILTON PRADO e RODRIGO SILVA
Foram da mesma maneira.
Agora pra terminar
COSTA E SILVA eu enumero
Junto com o JUAREZ TÁVORA
Gaiolas de grande esmero
De soma aos desmantelos
Nossa história vai a zero.
8
Fim – 19/10/2013.
cordel chica da silva
CHICA DA SILVA
Venham musas do saber
Dos recônditos dos Gerais
Habitantes das Arcádias
De brilhantes minerais
Dai-me luz para escrever
Estes versos cordiais.
Peço às santas protetoras
Dos negros da escravidão
Santa Ifigênia e do Rosário
Como em forma de oração
Invocar Chica da Silva
Na fé da religião.
E quem foi Chica da Silva
Senhora sem procedência
A mais bela do Tijuco
Ou a rainha da opulência?
Assim Chica fez causar
Uma reação de pungência.
No Arraial de Milho Verde
Chica da Silva nasceu (1731)
Não era negra, e sim parda
Como o sol que entardeceu
Os seus traços eram finos
E bonita ela cresceu.
1
Antônio de Sá, o seu pai,
Colono trabalhador
Maria da Costa, sua mãe,
Africana Inhá de cor
Chica uma mulher diferente
A marca de seu valor.
Francisca veio ao mundo pobre
Só conseguiu a liberdade
Vivendo em concubinato
Com um branco da cidade
Ficou rica e conquistou
Lugar na sociedade.
As mulheres brasileiras
Naqueles anos distantes
As tidas como brancas
Não eram muito elegantes
Restavam às negras pardas
Serem mais interessantes.
Então Francisca da Silva
Na boca do diz-que-diz
Casa com João Fernandes
O mais rico do país
Assim a escrava Chica
Levava a vida feliz.
2
Contratador de Diamantes:
João Fernandes de Oliveira
Passa viver em casamento
Com a Chiquinha mineira
Teve este relacionamento
Repercussão brasileira.
Pois a Chica que era pobre
Logo se vira em um mito
E por muitas gerações
No fala que fala foi dito
E a Chica se transformou
Numa boquinha de pito.
Mas a Chica também foi
Tida como perdulária
Devoradora de homens
Vida fácil necessária
Bruxa anti-religiosa
Infecção da malária.
Aquela que já foi escrava
Em épocas temerárias
Passa a ser com o passar
Sensível e libertária
Sensualidade aflorada
Com a negra milionária.
3
Pois Chica da Silva teve
Um imenso tudo sem fim
Teve igreja ornamentada
Com santinho e querubim
Teve banda da melhor
Com corneta de marfim.
Mas a Chica tinha um sonho
Um sonho de não acabar
Os Gerais ficou pequeno
No torrão dela pisar
Queria ver a areia branca
Queria banhar no mar.
O amor de João Fernandes
Era tal o soar do apito
No encontrar do diamante
Muito intenso e bonito
Para Chica, o seu amor
Era eterno e infinito.
Houve um tempo, um tempo negro
Em que Chica a negra ativa
Por voz da população
Teve imagem negativa
Tudo por inveja boba
Por ser mulata atrativa.
4
A história revelou
Que foi pura ingratidão
Pois a Chica se casou
Com amor no coração
Com um branco milionário
Realeza da paixão.
E Chica, a Chica da Silva
Não pisa sem ter tapete
Só caminha na liteira
Nunca bate com porrete
Nada faz, manda fazer
Não tolera cacoete.
Ninguém já viu seu cabelo
Tinha a cabeça rapada
Perucas de todas as partes
Por ela era comprada
Tudo, tudo que queria
Era ser mulher amada.
E Sá Chica também tinha
Dentro dela a maldade
Um dia, um escravo humilde
Ao espiar sua beldade
Mandou castrar o negrinho
Soltou-o nu pela cidade.
5
Todo mundo segue Chica
Ex-escrava feito menina
mucamas, negros, mordomos
Vão saudando-a pela esquina
No sobe desce ladeira
Da Vila de Diamantina.
E lá vai Chica da Silva
Toda soberba e risonha
Diamantes pelo corpo
Em liteira de cegonha
Ela é a Chica-que-manda
No Vale Jequitinhonha.
Pois um dia uma negrinha
Sorriu para o Contratador
Chica da Silva de ciúmes
Envermelhou de rancor
Mandou arrancar os dentes
A negra morreu de dor.
Nhá Chica gosta de cama
Para dormir e para amar
Quando seu amado viajando
Ela não sabe levantar
Manda as mucamas trazer
As delícias do lugar.
6
Chica é parte do movimento
Conhecido e tido e tal
De Desenvolvimentismo
Ufanista Nacional
Uma heroína da nascente
Redentora racial.
Ah, Nhá Chica teve filhos
Foram 14 no total
Um com o primeiro homem
13 de parto normal
Com João Fernandes, seu amor.
O ricaço maioral.
Então ela tira os seus filhos
Da cor e da escravidão,
Estudando em Portugal
Por aquela ocasião
Assim se tornaram como:
Filhos de Chica com João.
Havia muitas outras Chicas
Ex-escravas naturalmente
Casadas com homens brancos
Poderosos ricamente
Outras eram do comércio
Trabalhando legalmente.
7
Mas só a Chica despontou
Sendo a dama do momento
Face do Contratador
Homem de forte portento
As demais ficaram então
Sob o manto do esquecimento.
Chica tinha privilégios
Cheia de regalidades
Pode frequentar igrejas
Como também irmandades
Foi madrinha de batismos
Em muitas localidades.
A Rainha de Sabá
Chica, cara cor de noite
Viveu em plena liberdade
Enguarnecida do acoite
Feminista libertária
Livrou-se cedo do açoite.
Nhá Chica quando morreu (1796)
Mandaram tocar a banda
Missa conga para os negros
Despedida com quitanda,
E tomou assento no Céu,
A alma da CHICA-QUE-MANDA!
8
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