terça-feira, 27 de março de 2012

cordel para Celso Cunha

CELSO CUNHA – O NÃO-GRAMÁTICO
Autor: Olegário Alfredo – membro da ABLC e ALTO

Oh, fonte de inspiração
Minha fiel testemunha
Entrai em minha cabeça
E depressa me rascunha
Pra que eu possa burilar
Vida e obra de Celso Cunha.

O Brasil é um celeiro
De portentos cabedais
Pois em qualquer região
Temos muitos imortais
Com maior predominância
Aqui nas Minas Gerais.

Um deles precisamente
Digo com sinceridade
Nascido em terra mineira
Em uma bela cidade
Projetou cedo na vida
Cheio de prosperidade.

É Celso Ferreira Cunha
Personagem em questão
Um homem de muitas letras
O maior da região
Sua Gramática normativa
Estudou toda Nação.

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Em Teófilo Otoni ocorreu
O dia do nascimento
A inteligência foi sua amiga
Em fase do crescimento
Muito cedo demonstrou
Ter muito conhecimento.

Dez de maio na folhinha
Anunciava o calendário
Novecentos e dezessete (1917)
Ano revolucionário
Celso cunha balbuciando
Palavras de dicionário.

Filho de Tristão da Cunha
Grande político mineiro
E de Júlia Versiane
Família de bom dinheiro
Com quatro anos de idade
Vão pro Rio de Janeiro.

Tendo só dezessete anos
Começou no magistério
Professor de Português
Sempre com muito critério
Prematuro na carreira
Um menino muito sério.

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O Colégio do iniciante
De nome Pedro Segundo
Dedicação com vigor
Celso Cunha foi no fundo
Pois ali seria a abertura
Das porteiras para o mundo.

Com dedicação profunda
Em Direito bacharelou (1938)
E concomitantemente
Em Letras ele formou
O sonho de ser filólogo
Rapidamente alcançou.

Celso Cunha era sisudo
Só na gramaticatura
Mas fora de seus estudos
Uma alegre criatura
Muita festa e comilança
Após cada formatura.

E foi na Universidade
Do Distrito Federal (RJ)*
Veio à decidida opção
Pela crítica textual
De gostar dos trovadores *
Como também do jogral. *

Naquele tempo ser filólogo
Era para intelectual
Conhecer a mater língua
Era o marco principal
Nossa base do latim
Do tempo medieval.

O seu método adotado
Foi o histórico-comparativo
Usando o português arcaico
Ele se viu mais criativo
Resolvendo seus problemas
No caráter educativo.

Celso Cunha também deu
Contribuição essencial
Aos estudos dos cancioneiros *
Que foi bem fundamental
Ver a origem e evolução
Da língua de Portugal.

Os seus trabalhos nessa área
E na versificação
Para os estudos poéticos
Teve boa solução
O Celso Cunha estudava
Até chegar à exaustão.

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Temos como resultado
Pelas longas noitadas
Um grandioso trabalho
Das gramáticas publicadas
Todas com reedições
E pelo mundo espalhadas.

Celso Cunha passou a vida
A escrever livros e a ler
A ensinar e a conversar
Foi o seu modo de viver
Está envolvido com livros
Era seu maior prazer.

Noite adentro Celso Cunha
Gostava de trabalhar
E na sua biblioteca
Era mesmo de se admirar
Com mais de trinta mil livros
Cada qual no seu lugar.

Todos bem encadernados
Em couro de qualidade
E papel marmoreado
Com originalidade
Celso Cunha se orgulhava
Sem nenhuma vaidade.

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Celso cunha sempre dizia
Ser o seu próprio patrono
E que sua biblioteca
Nunca a deixou no abandono
Gabava-se de ter sido
Toda lida pelo dono.

Celso Cunha, o literato
Estudava pra valer
Nada nos livros anotava
Isto para não perder
O valor bibliográfico
Dos livros que estava a ler.

Celso Cunha parecia
Ter memória de gigante
Mesmo fora do Brasil
Não hesitava um instante
Sabia bem onde estavam
Todos os livros da estante.

Por telefone ele pedia
Uma consulta ligeira
- Quero o livro de estudo
Da história brasileira
Foi guardado há dez anos
Na segunda prateleira.

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- Abra na página dezoito
E confere a citação
Veja se foi a Izabel
Que proclamou Abolição
Se acaso estiver correto
Dei-me a confirmação.

Era assim que trabalhava
Noite e dia sem parar
Celso cunha foi, portanto.
Digo sem exagerar
O maior gramático do mundo
Um gênio espetacular.

A sua casa parecia
A extensão da Academia
Tanto livro enfileirado
Em perfeita harmonia
Celso Cunha transpirava
Pura bibliofilia.

Às vezes caía na farra
E poema declamava
Em bares da boemia
Celso Cunha perambulava
Era o avesso da gramática
Que nele manifestava.

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E pra sua casa levava a
Velha Guarda da Portela
Bebia, cantava e sambava.
Como numa passarela
Os verbos gramaticais
Fugiam pela janela.

A várias academias
Pertenceu naturalmente
A Brasileira de Letras
Cito aqui primeiramente
Vem a de Filologia
Como fato decorrente.

Deu aula em muitas escolas
Sobre língua e variedades
No Brasil e exterior
Pelas Universidades
Como em Paris, Portugal
E demais localidades.

Celso Cunha se compara
A um portento mundial
Exerceu variados cargos
No serviço Federal
E foi Diretor Chefe da
Biblioteca Nacional.


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