quarta-feira, 3 de julho de 2013

O MONSTRO DE ITAMARANDIBA

O MONSTRO DE ITAMARANDIBA Autor: Olegário Alfredo – veja a página: www.olegarioalfredo.com.br Vou contar para meu filho Tudo que ouvi de meus pais Assim com o passar do tempo Não esqueceremos jamais. O caso que vou contar É mesmo de arrepiar Desde nossos ancestrais. Tem coisas por este mundo Que existem de verdade Não é folclore nem crendice É pura veracidade Pegue com Deus a rezar E a maldade te livrar Do mundo da crueldade. Os monstros são criaturas Vindos da imaginação Povoam nossas cabeças Conforme a superstição Temos monstros populares Visto por todos os lugares Provocando assombração. Há muitos anos atrás No tempo da escravatura Os casos eram contados E não lidos na escritura Tinha monstro horroroso Grandalhão e pavoroso E nada de formosura. 1 Existe um monstro medonho De causar dor de barriga Há muito tempo ele vive Lá por Itamarandiba O seu modo assustador Causa espanto e causa horror Quem zombar de sua vida. Este monstro sempre é visto No Vale Jequitinhonha Ele é gordo feito porco E de uma cara medonha As crianças da região Se dormir sem oração Suam frio pela fronha. Pois agora vou contar Como surgiu este monstro O seu modo de agir A vocês logo demonstro Quem for a Itamarandiba Sem rezar reza comprida Irá direto a seu encontro. Conta-se que certa vez Um ricaço fazendeiro Desentendeu com o vigário Por causa de bom dinheiro O padre por natureza Entendendo a safadeza Deu uma de mandingueiro. 2 O fazendeiro abriu a boca Maldizendo do vigário: Você é gordo feito mula Come até fora do horário. Logo digo sem temer Que o padreco também crer É no dinheiro do operário. Coitado do fazendeiro Ao dizer o que não devia Sua vida virou inferno A partir daquele dia Pois o vigário no ofício Representa Jesus Cristo No altar da sacristia. Vou dizendo os sucedidos Caso de monstruosidade Cometidos pelo monstro Pelas ruas da cidade O monstro só quer vingar Pondo logo a assustar Todos da comunidade. O vigário rancoroso Disse para o fazendeiro: Vou rogar-lhe uma praga Bem pior que feiticeiro - Comerás tudo pela frente Calango, sapo e serpente E sola de sapateiro. 3 E o vigário não parou E mais praga foi jogando: - Fazendeiro excomungado O pior está lhe esperando Se você quiser saber De tão gordo vai morrer Com a barriga estourando. E no dia de seu enterro Para puxar o caixão Só com um carro de boi De oito juntas pelo chão E o corpo bem enterrado Na Matriz do padre amado Para não pedir perdão. Pois lá dentro da igreja O monstro não fugiria O seu corpo lá enterrado Muito guardado ficaria De modo dessas razões E o poder das orações Da Matriz não sairia. E o homenzarrão foi comendo Foi comendo, foi comendo E o seu corpo a cada dia Foi crescendo foi crescendo Comia tudo pela frente Até fruta com semente Pelo bucho ia descendo. 4 Contam o povo da cidade Que primeiro devorou Os mantimentos guardados Que pela frente encontrou Até jaca com o talo Direto pro seu gargalo O monstrengo empurrou. O monstro também comeu Todas frutas do quintal As verduras lá da horta Era o prato principal Comeu tudo sem cheirar E tão pouco examinar Sem nada lhe fazer mal. Em seguida comeu os bois O cavalos e as galinhas Porcos, burros e os cabritos E até as ervas daninhas E com tanta comilança Já quase poucando a pança Peidava enxofre e murrinha. E não parou de comer Comeu os bichos dos arredores Veados, pacas e tatus Comeu até bichos menores. Os bichos chegando ao fim Comeu cela, cabresto e capim Comeu lama e trem piores. 5 Pesando mais de mil quilos E rosnando feito cão O monstro representava O terror da região Já pensando em comer gente Espingolu-se de repente Caiu morto pelo chão. Para fazer o caixão Tão grande e descomunal Muitas toras de braúnas Trouxeram para o local E o corpo muito pesado Para fora foi puxado Com carro-de-boi real. Quem for a Itamarandiba Observe bem pelo chão Verás as marcas da roda Com tamanha perfeição Que o carro-de-boi deixou E o tempo nem apagou O traço da maldição. Com muita dificuldade O enterraram na Matriz Surgiram coisas medonhas Na boca do diz-que-diz. A população amistosa E também religiosa Foi sentindo se infeliz. 6 E coisas misteriosas Começaram a acontecer Rachaduras nas paredes O fiel podia ver Até o cabelo do bicho O padre punha no lixo Para ninguém perceber. Ainda não faz muito tempo Que a Matriz colonial Fora toda destruída Por um incêndio infernal Só podia ser o Cão Dando a sinalização Que ele vive no local. Ungido pelos poderes Da Santa Cruz no altar O frei jogava água benta Para o monstro sossegar Mesmo hoje na igreja ova Esta cena se renova Perante a qualquer olhar. E o monstro não parou mais De assustar a região Havia defronte a igreja Um pé de cedro fortão Um dia sem novidade Na rotina da cidade O cedro pocou no chão. 7 Se o bicho sair da cova Como reza a maldição Comerás tudo pela frente Até a sétima geração Para livrar deste horror Só água benta do Senhor E com o poder da oração. Até hoje ainda se vê Saindo das rachaduras Do assoalho da igreja Formigada e tanajura Diz o povo do lugar Pra este monstro sossegar Só mesmo com benzedura. O monstro da região Também tem companhia A mulher de cinco metros Ser sua prima ele dizia Em noites de lua cheia Pela igreja ela rodeia Em busca de arrelia. Vou contar para meu filho Tudo que ouvi de meus pais Assim com o passar do tempo Não esqueceremos jamais O caso que acaba assim Vem do tempo do sem-fim Lá de nossos ancestrais. 8 Postado por Olegário Alfredo às 15:38 Nenhum comentário: quinta-feira, 29 de março de 2012 cordéis de minas LEIA NESTE BLOG OS CORDÉIS: CLUBE DA ESQUINA - SER MINEIRO e CELSO CUNHA VISITE A: Cordelteca Olegário Alfredo - Sabará -MG A Cordelteca Olegário Alfredo (Mestre Gaio), está localizada na Cidade de Sabará-MG, nela se encontra um expressivo acervo de cordéis de vários autores do Brasil, com também matrizes de xilogravuras e livros sobre o assunto. Olegário Alfredo é Membro da ABLC - Academia Brasileira de Literatura e da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni. Com mais De 100 títulos de cordéis publicados. Veja a página: www.olegarioalfredo.com.br e o blog: www.cordeldeminas.blogspot.com

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